Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 90% dos negócios do país são ou começaram em família. E conforme a mesma instituição, apenas 5% dos empreendimentos chegam vivos à terceira geração dos fundadores.

Esses dados apontam dificuldades e desafios na gestão de empresa familiar, que atrapalham a manutenção de um gerenciamento profissional no presente e dificultam a famosa passagem de bastão para o futuro.

Entenda a seguir alguns desses desafios, os cuidados que você deve ter na gestão, boas práticas e o mínimo necessário para uma sucessão bem sucedida do comando.

Gestão de pessoas

Essa parte da gestão do negócio de família é difícil, e até perigosa, porque na maioria das empresas desse tipo as pessoas são próximas também fora do trabalho, nos círculos familiar e de amizades. Então, as relações podem acabar se misturando e isso gera dificuldades em relação a cobranças, promoções, contratações, demissões e demais movimentos naturais das relações de trabalho.

Primeiramente, o gestor precisa ter em mente os pilares da gestão de pessoal (como liderança, capacitação, motivação, avaliações justas, cooperação etc) e colocá-los em prática com imparcialidade. E é recomendável que exista um setor de recursos humanos, o RH, para auxiliar nesse gerenciamento, de preferência sem parentes ou amigos trabalhando nesse departamento.

Documentar regras e políticas também é bastante útil, pois de antemão quebra margens de permissividade que profissionais poderiam ter dentro do negócio por esperarem alguma estabilidade fruto da relação pessoal prévia com outros funcionários e gestores. O plano de cargos e salários, por exemplo, é um dos documentos que ajuda bastante a manter uma gestão de pessoas transparente e sem conflitos, garantindo que há motivos claros e imparciais para salários e promoções de profissionais.

Um cuidado especial precisa ser tido em relação a pessoas com muito tempo de empresa, geralmente familiares ou amigos da família. Com o tempo, eles podem entrar na chamada zona de conforto, não rendendo mais como antigamente ou julgando estarem em patamar mais alto na hierarquia do que o permitido por seus cargos.

Quanto a isso, deve ficar bem claro que ali o que há é uma relação de trabalho, pois esses profissionais não estariam diariamente dedicando boa parte de suas horas se não recebessem salário por isso. Da mesma forma, devem entender que o negócio não pode dedicar investimento em suas remunerações sem o retorno esperado de suas funções.

Tomada de decisões e resolução de conflitos

Há decisões que desagradam muitas pessoas, mas precisam ser tomadas. E não se pode deixar de tomá-las por causa disso, mesmo que quem desaprove a decisão necessária para o negócio seja um parente.

Como em qualquer empresa, as pessoas abaixo da diretoria devem entender os motivos das decisões e saberem que mesmo amargas são necessárias para a manutenção da empresa, da competitividade e das remunerações de todos.

Outra dificuldade da gestão de empresa familiar é a resolução de conflitos, que podem vir de fora para dentro ou iniciarem no ambiente de trabalho e serem levadas para fora dele. Sendo o primeiro caso, é preciso isolar o antecedente e buscar que os envolvidos não deixem isso afetar suas decisões e ações, instruindo-os a fora da empresa resolverem suas questões pessoais. As chances de sucesso são maiores com ajuda de profissionais de RH e especialistas em relações humanas.

O conflito pessoal iniciado no ambiente de trabalho e levado para fora normalmente é tido como uma possibilidade, mas os responsáveis não podem pautar suas definições nisso.

Se a situação chegar ao ponto de que duas ou mais pessoas não conseguem mais trabalhar juntas e o negócio já está sendo afetado, uma delas ou todas precisam ser desligadas para minimizar os riscos.

Retenção de talentos sem parentesco

Mesmo que não aconteça, funcionários sem relação de parentesco ou amizade com a diretoria podem se sentir desvalorizados ou preteridos para promoções e premiações. Por isso, deve ficar claro para eles, principalmente em questões como cobrança, tratamento, avaliações periódicas e remuneração, que não há privilégios ou supervalorização com base em relações pessoais.

Isso também é importante para a atração de novos talentos, pois uma contratante com fama ou histórico de privilegiar amigos e família é desinteressante para bons profissionais, que buscam remuneração justa e possibilidades  de crescimento.

Inovação

Inovar em alguns casos significa reestruturar setores, reposicionar pessoas, mudar processos e ferramentas e redefinir funções. É uma tarefa ainda mais difícil se parte da equipe ou toda está em zona de conforto e apresenta resistência a mudanças do cenário já conhecido.

Assim como as decisões, os envolvidos devem entender os motivos da inovação e principalmente que ela é necessária para o bem do negócio. E ela não pode deixar de ser feita quando viável por conta da resistência dos funcionários que são amigos e parentes.

Planejamento sucessório

É natural pensar em um filho ou irmão mais novo do diretor assumindo suas funções após a aposentadoria, mas nem sempre esse parente próximo está preparado para tamanha responsabilidade ou mesmo deseja tê-la.

Antes de iniciar o planejamento sucessório, a pessoa com mais potencial deve ser escolhida de acordo com critérios como habilidades, tempo de trabalho, capacidade de liderança, maturidade, pensamento estratégico e demais virtudes de um bom gestor. E pode nem ser um parente ou amigo, pois o que se busca na sucessão é o melhor profissional para liderar todo um negócio.

Com a escolha feita, a pessoa indicada deve ser preparada e ir aos poucos assumindo responsabilidades que serão diárias no momento em que estiver sozinha no patamar mais alto da hierarquia. Tudo deve ser feito de maneira transparente e o escolhido ainda precisa ser monitorado no início, pois tende a ser o momento mais difícil do exercício de liderar e ter autoridade.

Em suma, a gestão de empresa familiar não pode ser uma gestão familiar, mas sim profissional do ambiente que cobra seu preço por ser formado em grande parte por parentes e demais pessoas próximas pessoalmente.

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